sexta-feira, setembro 29, 2023
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Entrevista com a Beer Sommelière Francesca Sanci

Olá, jovens Padawans!

Tudo certinho?

Hoje trago pra vocês uma matéria um pouco diferente.

Pra quem me conhece ou segue o nosso blog e nossas redes, sabe o quanto somos amantes de boas cervejas, eventos cervejeiros e o mais legal: Bater papo com a galera do meio! O papo é sempre agradável e o aprendizado adquirido é sempre enriquecedor.

Nesta última quarta-feira (05/07), houve um workshop muito bacana no Cevina (que já é praticamente nossa segunda casa, rsrsrsrsrsrs), onde a beer sommelière Francesca Sanci pôde de uma forma muito simples, agradável e descomplicada, nos ensinar um pouco mais sobre os aromas e sabores da cerveja.

Com base na degustação 4 ótimos rótulos da cervejaria O Motim, quem esteve presente teve a oportunidade de ouvir as explicações e testar sensorialmente os aromas e sabores. Praticamente uma aula prática, onde também foi dividido conosco outros pontos importantes, como as alterações de sabor decorrentes do copo, da temperatura da cerveja e até mesmo da forma de envase (garrafa x lata) do líquido.

Quem está iniciando agora também teve uma breve explicação sobre cada componente da receita cervejeira e alguns detalhes sobre o papel de cada um na composição das cervejas, como por exemplo, a influência que os diferentes tipos de malte e lúpulo podem ter sobre o sabor da cerveja.

O cenário cervejeiro nacional vem crescendo em larga escala, trazendo à luz novas micro cervejarias, assim como jovens e promissores profissionais que estão procurando cada vez mais buscar conhecimento e profissionalização na área. Com a Francesca, que é formada em Gastronomia pela UFRJ e Sommelière de Cervejas pelo Science of Beer e hoje trabalha na área comercial da cervejaria O Motim, não é muito diferente.

Buscando conhecer um pouco mais do perfil da galera que vem se aperfeiçoando na área, suas motivações e desafios, resolvemos aprofundar a conversar com a Francesca, para além dos conhecimentos apresentados no workshop, como poderão ver na entrevista abaixo:

1. Quando e como surgiu o seu interesse por ser beer sommelière?

O interesse começou aos 18 anos quando comecei a frequentar os bares de cerveja artesanal do Rio e uma loja próxima a minha casa. Na época trabalhava em um restaurante e todo mês reservava parte do meu salário para comprar cervejas na loja. Não entendia muita coisa, mas estava gostando de apreciar essas bebidas diferentes. Na metade da faculdade de gastronomia, resolvi fazer o curso de sommelier para aprender de verdade sobre a bebida. Aos poucos, fui largando a área de cozinha e me especializando ainda mais na área de bebidas.

2. Há quanto tempo atua na área?

Com cerveja já tem 2 anos. 

3. Você enfrentou/enfrenta algum tipo de preconceito (machismo) dentro da sua profissão?

Nunca diretamente, mas é perceptível que as pessoas não reconhecem o seu trabalho como reconheceriam o trabalho de um homem. Já passei por situações que demonstravam que o mais “obvio” para as pessoas é que quem detêm o conhecimento ou a liderança não é você.

4. Quais os cursos mais procurados do Science of Beer Institute?

O curso de sommelier de cervejas sem duvida é o mais procurado. Agora também estamos tendo bastante interesse no Beer Talk, curso intensivo para aqueles que querem aprender sobre a bebida de forma rápida e prática.

5. Onde e como atua um beer sommelier?

O Beer Sommelier atua em diversos ambientes como dentro de cervejarias, lojas de insumos, restaurantes, bares, representação de cervejarias e prestando consultoria para definição de carta de cervejas, harmonizações e realizando treinamentos.  
No meu caso, represento a cervejaria O Motim, e com a formação e experiência como sommelière é mais fácil indicar ao cliente as melhores cervejas para o negócio dele. Também cabe a mim realizar o treinamento dos funcionários dos restaurantes e bares para que eles consigam entender o que é a bebida e passar isso ao cliente final.

6. Há espaço para este profissional dentro do Rio de Janeiro? Há carência ou excesso de profissionais nesta área?

Pelo que vejo, há uma grande quantidade de profissionais formados na rua, e poucos que realmente fazem da formação uma profissão. Também ouço relatos de donos de bares e restaurantes que alguns profissionais tendem a não querer “trabalhar duro”, e fazem careta quando ficam sabendo que devem lavar copos e carregar caixas e barris. Isso acontece também na área de gastronomia, pois é vendido ao público um glamour que não existe na profissão, então algumas pessoas ficam com a ilusão que ser gastrônomo ou cozinheiro é ser um “masterchef”. O sommelier dentro dos bares, por exemplo, nada mais é do que um garçom ou um profissional especializado na bebida em questão, o que significa que ele tem os mesmos deveres que os demais funcionários. Infelizmente temos uma cultura em que vangloria os chefs de cozinha e cozinheiros (graças a midia) e despreza o trabalho daquele que está trabalhando diretamente no atendimento ao cliente.

Por fim, em resposta a pergunta, temos um mercado que mesmo com crise não para. Enquanto diversos bares fecham pelo Rio de Janeiro, muitos outros abrem, e os donos de bar pedem por esses profissionais mais qualificados, só que, infelizmente, ser formado não significa estar apto a trabalhar. Em resumo há carência de profissionais que queiram trabalhar de verdade.

7. Você acha que o mercado das cervejas artesanais está saturado ou ainda há espaço para crescer dentro do Rio de Janeiro?

Saturado. Estamos em crise, os bares estão vendendo menos, as pessoas estão comprando menos. Hoje você, cliente final, bebe dois chopes e não cinco. O bar pede um barril de 30 L e não um de 50 L. Enquanto os bares estão “segurando a onda” e você “segurando as moedas no bolso”, temos cervejarias ciganas surgindo a todo momento, algumas com bom potencial, outras que claramente não irão sobreviver. Não basta fazer uma boa cerveja, você precisa de uma estrutura e planejamento pra manter e crescer com essa cerveja no mercado. É como abrir um restaurante com uma boa comida e sem estrutura para atender aos clientes. Então é um cenário desproporcional o que estamos vivendo no momento. Inclusive, vale ressaltar que estamos saturados também de estilos iguais sendo lançados toda semana. O carioca é melhor do que isso.

8. Na sua opinião, as cervejas artesanais brasileiras já possuem qualidade equiparável às cervejas internacionais? Por quê?

Confesso que não sei dizer se estão equiparáveis, mas acredito que ainda não. Temos cervejas muito boas no  mercado, mas uma das coisas que falta por exemplo, é cuidado com padronização. Vemos muitas cervejas com defeitos grotescos, ou com alterações de lote muito visíveis. De qualquer forma acredito sim no nosso potencial, enfrentamos muitas dificuldades para fazer o líquido ser produzido e chegar às prateleiras e torneiras dos bares. 

9. Que grande conselho você daria a quem quer se aventurar no mundo das cervejas artesanais?

Pra quem quer fazer cerveja e tornar disso um negócio: Faça um bom planejamento e muitas contas.

Pra quem quer começar a beber e discutir sobre a bebida: Estude muito e aprenda com os outros; Julgue a cerveja pelo líquido, e não pela cervejaria; Saiba separar o gosto pessoal do estilo degustado: se você não gostou não significa que seja uma cerveja ruim e por fim, tenha humildade e ajude a propagar informação sobre cerveja, e não desmerecer aquele que sabe menos que você.

Estendemos aqui nossos agradecimentos à Francesca pelo excelente workshop e pela entrevista.

Espero que tenham gostado e que a força esteja com vocês!

Serviço:

Beer Sommelière: Francesca Sanci / Instagram: @fransanci

Cervejaria O Motim: Facebook / Instagram: @MotimBrew

Cervejas utilizadas no Workshop: 1848, Hell de Janeiro, Raízes e 18 do Forte.

Bar: Cevina Steak Bar

Rua Passos da Pátria, 276, Jardim 25 de agosto, Duque de Caxias, RJ.

Facebook / Instagram: @cevinasteakbar

Site: http://www.cevina.com.br

Paulo Souza

Pai, Marido e Nerd full time. Nerdice raiz é a minha essência.